Skip to main content

Jelly – Digital Agency

O Google I/O é a conferência anual mais importante da Google, onde a empresa apresenta as suas maiores novidades. É um evento que dita tendências para todo o ecossistema tecnológico, antecipando funcionalidades que moldarão o nosso dia a dia tanto para quem cria tecnologia como para quem a consome.

Na edição de 2025, a Google voltou a surpreender o mundo. O grande destaque foi o Gemini, um modelo de linguagem avançado que promete transformar por completo a forma como interagimos com os produtos e serviços digitais. Mas, por detrás do entusiasmo, ergue-se uma dúvida inevitável: até que ponto esta “inteligência útil” pode coexistir com a nossa confiança digital?

Este artigo mergulha nessa promessa de inovação e na desconfiança que a acompanha. Vamos explorar não só as possibilidades revolucionárias do Gemini, mas também os desafios éticos, sociais e comportamentais que esta nova era nos impõe. 

Será este o futuro que todos esperávamos, ou um futuro para o qual não estamos verdadeiramente preparados?

Gemini: a IA que está em todo o lado

A nova geração de modelos Gemini, com destaque para o 1.5 Pro e o 1.5 Flash, apresenta capacidades impressionantes:

  • Contexto de até 2 milhões de tokens, permitindo processar grandes volumes de informação;
  • Resumos automáticos, respostas inteligentes e execução de tarefas em ferramentas como Gmail, Docs e Sheets;
  • Integração com Android (Gemini Nano), garantindo assistentes contextuais que funcionam diretamente no dispositivo.

Além disso, a Google apresentou a Search Generative Experience (SGE), que oferece respostas baseadas em raciocínio e contexto em vez de simples links. Esta visão reforça a promessa de uma IA cada vez mais útil e presente em cada momento do nosso quotidiano.

O lado positivo: personalização e produtividade

A promessa de inovação é, sem dúvida, tentadora: maior eficiência em tarefas diárias como gestão de emails, elaboração de documentos ou planeamento de viagens, experiências mais naturais e proativas com assistentes que compreendem o nosso contexto, e apoio à criatividade com ferramentas para gerar imagens, música, código e até vídeos.

Estas funcionalidades colocam a IA ao serviço do utilizador, tornando as interações mais fluídas, personalizadas e aparentemente intuitivas.

O outro lado: dependência, privacidade e substituição

Mas esta promessa não vem sem custos. É precisamente aqui que nasce o lado que gera desconfiança.

  1. Centralização no ecossistema Google
    Quanto mais úteis forem estas ferramentas, maior será a nossa dependência da Google. A centralização ameaça a diversidade de escolhas e pode limitar a autonomia digital de cada pessoa.
  1. Privacidade em risco?
    Apesar do Gemini Nano funcionar localmente, muitas das funcionalidades exigem acesso a dados sensíveis, como emails e históricos de navegação. A promessa de privacidade está realmente a ser cumprida?
  1. A fronteira entre apoio e substituição
    Projetos como o Astra, que reconhece imagens, ouve sons e responde em tempo real, levantam a questão: onde acaba o apoio e começa a substituição?

Estamos a criar tecnologia que liberta tempo ou que nos rouba o controlo?

Um impacto que vai além da tecnologia

A revolução da IA não se fica pelo universo digital, impacta todas as esferas da nossa vida. No mercado de trabalho, a automação promete eficiência, mas também ameaça eliminar funções operacionais e alimentar a insegurança profissional. Na educação, o acesso rápido a resumos e respostas prontas pode facilitar a aprendizagem, mas corre o risco de enfraquecer o pensamento crítico.

E no dia a dia, confiar excessivamente na IA para tomar decisões pode reduzir a nossa autonomia e capacidade de julgamento – competências, as quais são essenciais para vivermos em sociedade.

O futuro que escolhemos

A Google lidera uma nova geração de produtos inteligentes, integrados e profundamente personalizados. A tecnologia apresentada no I/O 2025 é, sem dúvida, impressionante. No entanto, a verdadeira inovação não se mede apenas pela inteligência, mas pela consciência com que é desenvolvida e usada.

Cabe-nos a nós, enquanto utilizadores, empresas e sociedade, questionar, exigir transparência e garantir que a tecnologia esteja ao nosso serviço e não o contrário.

A verdadeira inovação exige não apenas inteligência, mas consciência. Estamos preparados para acompanhar este avanço?