Marta Peral Ribeiro
– Consultora de Comunicação –
O impacto dos social media na saúde mental dos utilizadores
As redes sociais são uma ferramenta para fazermos o que sempre fizemos: comunicar.
Mas para muitas pessoas a experiência diária de aceder às redes sociais torna-se tóxica, porque desenvolvem sentimentos de inferioridade e de estarem a perder oportunidades.
Questionam o seu valor, a sua identidade, a sua beleza e, em última instância, a sua vida.
Marta Peral Ribeiro
– Consultora de Comunicação –
O impacto dos social media na saúde mental dos utilizadores
As redes sociais são uma ferramenta para fazermos o que sempre fizemos: comunicar.
Mas para muitas pessoas a experiência diária de aceder às redes sociais torna-se tóxica, porque desenvolvem sentimentos de inferioridade e de estarem a perder oportunidades.
Questionam o seu valor, a sua identidade, a sua beleza e, em última instância, a sua vida.
Utilizando o Twitter, a tenista Naomi Osaka anunciou recentemente a sua desistência do torneio de Roland Garros. Não, o motivo não é COVID nem uma lesão, mas sim a sua saúde mental – a ansiedade social a que se sujeita nas conferências de imprensa, além de toda a pressão inerente ao seu trabalho, afetam o seu desempenho.
Fonte: Twitter Naomi Osaka
Fonte: The Blast
Numa outra rede social, Will Smith expressa o seu apoio à tenista.
Fonte: Twitter Supercar Blondie
Também Supercar Blondie, conhecida pelos seus vídeos onde conduz carros como Lamborghini, Bugatti ou Ferrari, publicou um vídeo nas suas redes onde expressa abertamente os sintomas de stress e depressão que sente devido à pressão online.
Seguida por milhões de seguidores em todo o mundo, Blondie refere a quantidade de comentários e opiniões que recebe nas suas plataformas digitais, o esforço que faz para criar conteúdos e de como todo o stress gerado afeta o seu sono.
O tema da saúde mental parece estar, finalmente, a receber a atenção que merece. E se as redes sociais são um canal para se falar do assunto, também são uma das grandes causas de ansiedade e depressão para muita gente. Mas porquê, ao certo?
O contexto
A vida offline já apresenta razões suficientes para andarmos ansiosos. E a pandemia só veio agravar isso: ficámos ainda mais preocupados dada a incerteza dos próximos tempos e mergulhámos de cabeça no mundo online, sobretudo nas redes sociais.
Este relatório da Populus foi realizado há um ano no Reino Unido, mas a realidade em Portugal não será muito longe desta:
Fonte: Statista 2020
Haverá uma proporcionalidade direta entre elas?
Fatores de ansiedade ligados às redes sociais
Comparação com os outros
Na maioria dos casos, os perfis das redes sociais enfatizam o lado bonito das pessoas e as suas conquistas: o rosto e o corpo em forma, os lugares trendy onde estão, a paisagem incrível que têm à sua frente, o brunch divertido com as amigas, a família perfeita, entre outras glórias.
Não é que isso corresponda exatamente à realidade, mas a nossa tendência, mais ou menos consciente, é a de nos compararmos com os outros. E é quase garantido que a nossa perceção é de não estarmos tão bem quanto eles.
Sintomas de dependência
A atividade nas redes sociais é inicialmente uma fonte de entretenimento. Depois passa a ser uma espécie de necessidade e rapidamente adquire contornos de dependência, assemelhando-se a uma droga.
Efetivamente, ao nível do cérebro ocorre uma descarga de dopamina cada vez que recebemos uma notificação, um like ou um comentário positivo. Aliás, as redes sociais são construídas com esse propósito. Não é por acaso que o feed não tem fim, ou que aparecem sugestões talhadas ao nosso gosto.
Capital social
O termo capital social define a influência exercida nas redes sociais (seja em comunidades dentro ou fora do digital) e a capacidade de se diferenciar da concorrência. E esse fator está relacionado com o tipo de interação que recebemos. Basicamente, quantos mais seguidores e likes, maior é o capital social.
Mas será sensato quantificarmos o nosso valor ou de alguém com base nisso?
Alteração do senso de identidade
Quando a nossa autoestima fica afetada pelo número de visualizações e «gostos» que recebemos, a noção de identidade vai-se alterando também. E se a personalidade se molda de acordo com o que acontece nas redes sociais, há o risco de se formar uma nova persona.
O que, em alguns casos, pode ser positivo, porque uma pessoa pode encontrar nas redes uma representatividade social (como acontece com grupos minoritários, por exemplo). Mas em muitos outros casos não é.
Segurança e privacidade nas redes
Cada vez mais se fala da partilha de dados com terceiros e de como tudo o que fazemos e dizemos nas redes sociais está a ser controlado, tornando a distopia de Orwell, 1984, assustadoramente próxima da realidade.
Para além dessa monitorização, que não só é um assédio à privacidade dos utilizadores como alimenta o seu feed com sugestões personalizadas, existe o abuso entre utilizadores. Desde o cyberbullying ao ataque de hackers, passando pelo assédio infantil e outros.
Tudo menos ficar de fora
Ter medo de estar a perder alguma coisa, de estar excluído, é um receio real e está associado a um sentimento intrínseco ao ser humano: o desejo de pertença. As redes sociais transmitem a ideia de que tudo o que pode acontecer de interessante está lá. Como se nos fossemos aborrecer, perder amigos, algum evento ou oportunidade única caso não tenhamos acesso ao Instagram ou ao Facebook.
Nomofobia
No mobile phone phobia é uma reação exacerbada quando ficamos sem o smartphone, seja porque ficou esquecido em casa, porque avariou ou simplesmente ficou sem bateria.
Por outras palavras: é o medo de ficarmos incontactáveis. Eis alguns indicadores de nomofobia:
- Verificação permanente das notificações (mensagens, emails, telefonemas)
- Levar o smartphone para todo o lado – inclusive para o WC
- Nervosismo quando não há Wi-Fi
- Dificuldade em desligar o equipamento, mesmo durante a noite
- Angústia quando a bateria do smartphone está no limite
Apercebeu-se que é nomofóbico? Não está sozinho.
E agora?
As redes sociais não vão desaparecer tão cedo. Apagar a conta de Whatsapp, Instagram, Youtube, Twitter, Facebook ou TikTok não é uma solução para todos. Mas como lidar com o stress que envolvem?
E o que lhe pode acontecer se desistir das redes sociais?
- Terá mais tempo para descansar.
- Pode continuar a ter amigos – e mais tempo para estar com eles.
- Pode continuar a comunicar com pessoas do mundo inteiro.
- E descobrir ou redescobrir outras formas de entretenimento.
- Terá uma noção mais realista de quem é.
Como disse a marketeer Bailey Parnell,
“Quando falamos do lado obscuro das redes sociais, estamos, na verdade, a falar do lado obscuro das pessoas”.
Com isto, significa que cabe a cada um avaliar como utiliza estes recursos, quer em relação a si próprio como aos outros.
Se é objetivo deste artigo incentivar alguém a abandonar as plataformas digitais? Não, de todo. Mas se ajudar quem sente ansiedade a entender os motivos e a trazer consciência do impacto da saúde mental nas nossas vidas, está cumprido o objetivo.



Fonte: The Blast
Fonte: Twitter Supercar Blondie
Fonte: Statista 2020

