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Jelly – Digital Agency

A inteligência artificial está a transformar rapidamente as tarefas, as competências e os modelos de trabalho. Perante esta mudança acelerada, surge a dúvida: é um risco para o emprego humano ou uma oportunidade de evolução?

À medida que a inteligência artificial redefine as tarefas e as competências, o futuro do trabalho humano entra numa encruzilhada: substituição ou evolução?
A integração crescente da inteligência artificial (IA) nos diferentes sectores da economia suscitou um debate intenso: será que se trata de um risco para o emprego humano ou de uma revolução que pode reconfigurar positivamente as dinâmicas laborais?

Neste artigo, analisa-se essa dualidade, apoiando-se em estudos científicos e relatórios especializados, e procura-se oferecer uma visão equilibrada sobre as potencialidades e os desafios dessa transição.

O panorama atual: entre automação e transformação

O avanço da IA e exemplos práticos

À primeira vista, parece óbvio: se uma marca reage rápido a uma tendência, terá automaticamente mais interação. Mas aA IA vem sendo aplicada a tarefas repetitivas, ao processamento de grandes volumes de dados e ao suporte à decisão em sectores como a saúde, finanças ou marketing.

Na indústria transformadora, o seu uso vai da logística interna à manutenção preditiva e ao controlo de processos. Contudo, os estudos sistemáticos sublinham que, apesar dos ganhos de eficiência, persistem riscos sociais e ambientais, bem como desafios de cibersegurança (Nelson, Biddle & Shapira, 2023, arXiv).

Exposição de profissões ao risco ou à complementaridade

Nem todas as ocupações enfrentam o mesmo risco de substituição. O Policy Paper da Fundação Francisco Manuel dos Santos (2025) classifica as profissões em quatro grupos: “profissões em colapso” (28,9%), “profissões em ascensão” (22,5%), “terreno dos humanos” (35,7%) e “terreno das máquinas” (12,9%) (FFMS, 2025).

No plano internacional, Ozgul et al. (2024) mostram que até os trabalhadores altamente qualificados em tarefas não rotineiras enfrentam um risco de automação, embora os impactos salariais variem entre as ocupações (Ozgul et al., 2024, arXiv). Já Xu, He & Du (2022) propõem um modelo baseado em redes neurais para identificar profissões com maior probabilidade de automação, reforçando estimativas anteriores que apontavam quase 50% dos empregos em risco (Xu et al., 2022, arXiv).

A perspetiva do risco

Destruição de empregos e desemprego estrutural

À escala global, o relatório Future of Jobs 2023 (dados citados pela Randstad Research) projeta que 23% dos empregos serão afetados pela IA nos próximos cinco anos, com 69 milhões de postos criados e 83 milhões eliminados, resultando num saldo negativo de 14 milhões de empregos (Randstad Research, 2023). Estes números refletem a tendência global, mas o impacto varia de país para país.

Gráfico de barras que compara, por país, a porcentagem de empregos expostos à automação por IA e o impacto da IA no crescimento anual da produtividade em 10 anos, incluindo média global.

Em Portugal, o mesmo relatório revela que apenas 7,9% das empresas com mais de 10 trabalhadores utilizavam IA em 2023, sugerindo que os impactos podem ser mais graduais a curto prazo. Ainda assim, o estudo da FFMS (2025) aponta que quase 30% do emprego nacional se concentra em profissões altamente vulneráveis.

Tabela com a percentagem de empresas que usam IA em vários países europeus, comparada por tamanho de empresa. Portugal apresenta 7,9% na média geral, com maiores valores nas empresas de maior dimensão.

Aumento da desigualdade e polarização salarial

A automação tende a beneficiar profissões de elevada especialização, mas pode enfraquecer as de menor qualificação. Ozgul et al. (2024) demonstram que a relação entre automação e salários não é linear: algumas ocupações rotineiras podem registar um aumento salarial, enquanto as tarefas analíticas podem perder valor (Ozgul et al., 2024).

O relatório Estado da Nação 2024 da Fundação José Neves acrescenta uma dimensão de género: 52% dos empregos ocupados por mulheres têm alto risco de automação>, contra 42% entre homens, sugerindo que a transição tecnológica pode agravar desigualdades (Fundação José Neves, 2024). Questões como a transparência dos algoritmos, responsabilização por decisões automatizadas e discriminação algorítmica exigem regulamentação sólida. Sem uma intervenção coordenada entre governos, empresas e instituições educativas, a transição tecnológica poderá aprofundar desigualdades estruturais já existentes. A RHmagazine (2023) sublinha que o AI Act europeu será decisivo na definição das responsabilidades laborais e empresariais (RHmagazine, 2023).

A perspetiva revolucionária

Criação de novas áreas e empregos híbridos

Segundo a FFMS (2025), 22,5% dos empregos em Portugal já se enquadram em profissões “em ascensão”, bem posicionadas para beneficiar da integração da IA. Novas áreas incluem ética algorítmica, supervisão de sistemas inteligentes e desenvolvimento de soluções de IA responsável (FFMS, 2025). Mas há também um outro lado, o da oportunidade. A mesma tecnologia que automatiza, pode gerar novas funções e mercados emergentes.

Aumento da produtividade e criação de valor

A adoção da IA pode não só substituir tarefas, mas também multiplicar a produtividade e criar valor económico adicional. Nelson, Biddle & Shapira (2023) destacam que os maiores ganhos surgem quando a IA complementa, em vez de substituir, o trabalho humano (Nelson et al., 2023, arXiv).

Reforço de competências humanas

O relatório Pessoas2030 (2025) recomenda investir em competências como literacia digital, pensamento crítico e aprendizagem contínua, essenciais para evitar que trabalhadores fiquem excluídos da transição digital (Pessoas2030, 2025). Estas competências não competem com a IA, complementam-na, fortalecendo a dimensão humana que nenhuma máquina substitui.

Entre o risco e a revolução

A verdade é que a IA no mercado de trabalho não é apenas risco, nem apenas revolução: é um processo ambivalente. Se, por um lado, relatórios como o Future of Jobs 2023 alertam para perdas reais a nível global, por outro, programas nacionais como o Pessoas2030 mostram caminhos concretos para transformar a tecnologia num motor de inclusão.

O desfecho dependerá das escolhas políticas, da regulação e, sobretudo, da capacidade de adaptação de trabalhadores e empresas. Portugal tem uma vantagem: encontra-se numa fase inicial de adoção, o que lhe permite preparar uma transição mais justa e estratégica – uma revolução onde o humano e o tecnológico coexistem.

“A revolução da IA não substituirá o trabalho humano – transformará o que significa trabalhar.”