Skip to main content

Jelly – Digital Agency

O TikTok revolucionou o digital, dominou o tempo de ecrã e tornou-se um dos espaços mais influentes da atualidade para as novas gerações. Tudo graças a uma experiência viciante, um algoritmo preciso e uma promessa irresistível de liberdade criativa.
Mas estará essa liberdade a ser realmente oferecida ou cuidadosamente gerida?

O que começou como uma app de vídeos curtos e divertidos evoluiu para um ecossistema onde se cruzam entretenimento, educação, consumo e ativismo, mas também um laboratório invisível de condicionamento comportamental, com impacto direto na forma como jovens pensam, sentem e agem. Neste artigo, é analisado o verdadeiro poder do TikTok, o que está a moldar o comportamento das novas gerações e porque é que esta influência merece uma reflexão urgente.

Criatividade em destaque: o palco da Geração Z e Alpha

Para muitos jovens, o TikTok tornou-se o espaço privilegiado para experimentar, aprender e mostrar quem são. A sua popularidade entre a Geração Z (1997-2012) e a Geração Alpha (pós 2013) não é por acaso: é uma plataforma que valoriza a criatividade descomplicada.

O que a torna tão apelativa?

  • Ferramentas acessíveis: edição de vídeo, filtros, sons virais, legendas automáticas e efeitos criativos ao alcance de todos.
  • Produção descentralizada: qualquer utilizador pode ser criador de conteúdos, com potencial de viralidade independentemente do número de seguidores.
  • Espaço de afirmação identitária: permite a exploração de valores, gostos e formas de estar únicas, criando micro comunidades e tribos digitais.

Atualmente, os jovens utilizam o TikTok para tudo, desde mostrar o seu talento artístico até relatar vivências do dia a dia ou debater causas sociais como: saúde mental, feminismo, justiça climática ou igualdade racial.

O outro lado da moeda: condicionamento e vício

Apesar do seu potencial criativo e educativo, o TikTok é também um exemplo avançado de engenharia algorítmica com impacto direto no comportamento dos utilizadores. A explicação por detrás da imersão profunda no TikTok também está no impacto que ele tem sobre o cérebro. O sistema de recompensas do cérebro humano, que é impulsionado pela liberação de dopamina, desempenha um papel crucial neste processo. A dopamina é um neurotransmissor associado ao prazer, motivação e gratificação. Cada interação com a plataforma, seja ele um gosto, um comentário ou a visualização de um novo vídeo, ativa este sistema de recompensa, levando a um ciclo contínuo de gratificação e reforço positivo.

Essa constante ativação do sistema de dopamina cria um ambiente altamente viciante, onde os utilizadores desejam mais interações, mais vídeos e mais conteúdo. O TikTok explora de forma eficaz esse comportamento, oferecendo uma experiência sem fim, com vídeos curtos e um fluxo ininterrupto de novos conteúdos. Isso cria uma sensação de estar “sempre conectado”, levando os utilizadores a passar horas na plataforma. Este processo não é apenas um exemplo de entretenimento, mas também de dependência psicológica, que afeta especialmente os jovens, que são mais suscetíveis a esses ciclos de recompensa.

Este ciclo de gratificação instantânea tem efeitos mais intensos em cérebros ainda em desenvolvimento, como os das gerações Z e Alpha, dificultando a autorregulação, promovendo o consumo excessivo e, em alguns casos, afetando a saúde mental.

A influência do TikTok na geração Z e na geração Alpha

O TikTok tem sido particularmente impactante nas gerações mais jovens, como a Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) e a Geração Alpha (nascidos após 2013). Estas gerações foram as primeiras gerações a crescer em um mundo digitalizado, onde as redes sociais desempenham um papel central nas suas vidas. Para eles, o TikTok não é apenas uma ferramenta de entretenimento, mas uma forma de aprender, comunicar e até mesmo descobrir o mundo.

Com a sua abordagem visual e interativa, o TikTok é uma plataforma que consegue capturar a atenção de forma eficaz. O formato de vídeo permite que as informações sejam transmitidas de maneira concisa, dinâmica e emocionalmente envolvente. Isso é especialmente atraente para a Geração Z, que prefere consumos rápidos e facilmente digeríveis. Ao contrário das longas páginas de texto no Google, o TikTok oferece uma experiência em que cada segundo conta, mantendo os jovens concentrados e interessados.

Além disso, a plataforma tem um impacto profundo no comportamento de compra e consumo das novas gerações. A plataforma está constantemente a impulsionar novas tendências de moda, beleza e até mesmo de alimentação, com jovens a seguir influenciadores que partilham as suas experiências de produtos e serviços. Isso tem uma grande influência nas escolhas de consumo dos mais jovens, que procuram referências autênticas em vez de publicidades tradicionais. Um exemplo deste fenómeno é o chamado BookTok,  uma hashtag usada por jovens criadores de conteúdo para partilharem opiniões, recomendações e críticas sobre livros. O impacto tem sido tão grande que muitas livrarias criaram secções dedicadas exclusivamente aos livros que se tornaram virais nesta plataforma, facilitando o acesso aos títulos que ganharam destaque graças a esses vídeos.

Consumo e influência: um novo marketing emocional

O TikTok consolidou-se como um motor de consumo altamente eficaz, onde o marketing assume uma dimensão emocional e muitas vezes impulsiva. Os influenciadores funcionam como verdadeiros “curadores” de estilo de vida, e a autenticidade que transmitem é frequentemente mais valorizada do que produções altamente polidas. A influência vai além da simples recomendação: basta um vídeo viral para esgotar produtos, encher restaurantes ou transformar livros desconhecidos em bestsellers. A plataforma facilita ainda mais este comportamento através de compras integradas com links afiliados e anúncios nativos que tornam o processo de compra quase instantâneo. Esta combinação entre proximidade emocional, recomendação social e facilidade de aquisição cria um ambiente de consumo altamente estimulante, onde os jovens, em particular, se revelam mais vulneráveis à compra por impulso e à pressão de seguir tendências.

Saúde mental: entre o estímulo constante e a ansiedade

A relação entre o TikTok e a saúde dos jovens é uma das áreas mais sensíveis e preocupantes quando se analisa o impacto desta aplicação. Embora a plataforma ofereça oportunidades de expressão, descoberta e aprendizagem, também levanta sérias questões no que toca ao bem-estar físico, emocional e mental dos seus utilizadores mais jovens.

O ritmo acelerado de consumo de conteúdo, aliado à busca por validação através de gostos e visualizações, pode provocar níveis elevados de ansiedade, comparação social e baixa autoestima. Muitos jovens acabam por medir o seu valor pessoal com base no desempenho dos seus vídeos, desenvolvendo uma relação de dependência emocional com a plataforma. Além disso, o excesso de estímulos visuais e sonoros podem sobrecarregar o cérebro, dificultando a concentração e aumentando os níveis de stress.

O uso prolongado da app, sobretudo à noite, está associado a distúrbios no sono, como dificuldade em adormecer, sono fragmentado e cansaço diurno. O padrão de consumo contínuo, especialmente com o feed infinito, atrasa a hora de dormir e interfere com os ritmos biológicos. Em paralelo, o consumo constante de conteúdos curtos pode comprometer a capacidade de atenção prolongada, essencial para a aprendizagem e o desempenho académico.

Apesar de promover diversidade em alguns aspetos, a plataforma está também recheada de tendências que reforçam padrões estéticos irreais. Vídeos sobre “dietas milagrosas”, “corpos perfeitos” ou desafios físicos extremos circulam com facilidade, muitas vezes sem qualquer moderação ou contexto adequado. Isto pode agravar problemas relacionados com a imagem corporal e contribuir para o desenvolvimento de distúrbios alimentares, especialmente entre adolescentes em fase de maior vulnerabilidade emocional.

Perspetivas futuras

O impacto do TikTok nas novas gerações é evidente, mas o seu futuro dependerá da forma como sociedade, educadores, legisladores e a própria plataforma atuarem em três frentes principais. Em primeiro lugar, é essencial uma regulação mais clara e eficaz, que promova maior transparência no funcionamento dos algoritmos e proteja os utilizadores mais jovens de conteúdos sensíveis ou manipulativos. Em segundo lugar, a literacia digital deve tornar-se uma prioridade, capacitando os jovens para compreenderem o que consomem, gerirem o tempo de ecrã e desenvolverem pensamento crítico em relação ao mundo digital. Por fim, o próprio TikTok precisa de evoluir de forma ética, assumindo o seu papel na saúde mental das novas gerações e promovendo um equilíbrio saudável entre entretenimento, aprendizagem e bem-estar. O futuro digital pode ser positivo, mas só o será se for moldado com consciência, responsabilidade e visão coletiva.